Pular para o conteúdo principal

DA REAL EXISTÊNCIA DO AMOR


A necessidade cria o amor ou ele existe?
A questão é delicada e conduz a uma resposta que
confunde mais do que explica.
Sim, a necessidade cria o amor.
Sim, o amor existe.

Na verdade, fomos condicionados pela sociedade e
seus contos de fada a acreditar que o amor é
uma coisa que acontece quando menos se espera,
que domina nosso coração,
que interrompe nossos neurônios
e nos captura para uma vida de palpitações,
suspiros e lágrimas.
Que o amor não tem idade,
não tem hora pra chegar,
não tem escapatória.

Que o amor é lindo, poderoso e absoluto,
que vence todos os preconceitos,
que vence a nossa resistência e ceticismo,
que é transformador e vital.

Esse amor existe e ai de quem se
atrever a questioná-lo, ainda mais vocês,
reles internautas, é o que devem
estar dizendo os deuses lá em cima.

Rendo-me, senhores.
Esse amor existe mesmo,
é invasivo e muitas vezes perverso,
mas também pode ser discreto,
sereno e indolor.

Costuma acontecer ao menos
uma vez na vida de todo ser humano,
ou três vezes, aos 17, 35 e 58 anos,
ou pode acontecer todo final de semana,
se for o caso de um coração insaciável.
Mas também pode acontecer nunquinha,
e aí a outra verdade impera.

Sim, a necessidade também cria o amor.
A pessoa nasce idealizando um parceiro
para dividir a janta e as agruras, a cama e as contas,
os pensamentos e os filhos.

Passam-se os anos e esse amor não sinaliza,
não apresenta-se, e o relógio segue marcando as horas,
lembrando que o tempo voa.

Esse ser solitário começa a amar menos a si mesmo,
pelo pouco alvoroço que provoca a sua volta,
e a baixa estima impede a passagem
de quem quer se aproximar.

É um círculo vicioso que não chega a ser raro.
Qual a solução: solidão ou imaginação?

O nosso amor a gente inventa, cantou Cazuza,
no auge da sabedoria.
A necessidade faz quem é feio parecer um deus,
quem é tímido parecer um sábio,
quem é louco parecer um gênio.

A necessidade nos torna menos críticos,
mais tolerantes, menos exigentes, mais criativos.

A necessidade encontra sinônimos para o amor:
amizade, atração, afinidade, destino, ocasião.

A necessidade nos torna condescendentes,
bem-humorados, otimistas.

Se a sorte não acenou com um amor caído dos céus,
ao menos temos afeto de sobra e bom poder de adaptação:
elegemos como grande amor um amor de tamanho médio.

O coração também sobrevive com paixões inventadas,
e não raro essas paixões surpreendem o inventor.

O amor pode ser casual ou intencional.
Se nos faz feliz, é amor igual.

( Martha Medeiros )

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DOS SAPOS & PRINCESAS

"Sempre fui sentimental e nunca levei adiante relações em que não estivesse emocionalmente envolvida, e por mais que eu pareça ser durona, é apenas fachada. Só eu sei o quanto já sonhei em ser uma princesa resgatada da torre de um castelo." (Martha Medeiros, em: Fora de Mim)

Fale por mim querido Caio

“... ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso. ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, ...uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura. ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo. dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna.” Caio F.

DO REAL IMAGINÁRIO

Porque no meu Universo, eu escrevo do jeito que eu quiser. Inclusive no invisível.